"Eu não sou boa e nem...


....quero sê-lo, contento-me em desprezar quase todos, odiar alguns, estimar raros e amar um" 
 Florbela Espanca
***
Ela dormia profundamente enquanto lá fora ele atravessava o jardim.
Foi andando por entre as folhagens, os pensamentos escorrendo pelas folhas orvalhadas daquela manhã. Via por traz dos olhos historias que ouvira quando ainda muito pequeno, de cavaleiros intrépidos que após percorrerem longos caminhos, aventurarem-se pelo mundo afora e enfrentarem dragões, tinham o premio de ter para si a mais bela princesa de todo o reino.
Ao chegar à porta da casa, viu que estava entreaberta. Lá dentro ela esperava.
Foi entrando devagar, aspirando o silencio. Seu coração pulava dentro do peito quando empurrou a porta do quarto dela. Lá estava, embalada em sonhos doces, deitada de costas para a porta, ele podia ver o contorno do seu corpo sob o lençol.
Suspirou e um arrepio lhe percorreu a espinha enquanto olhava sua jovem dama.
Hesitava e não sabia o por que. Sentia-se inseguro, havia muito o que considerar.
Então percebeu, que havia algo que lhe tinha escapado dos pensamentos:
De todos os longos caminhos, aventuras e dragões pelos quais passaria algum dia, ela era seu maior desafio, era o próprio caminho por entre seus pensamentos, o dragão feroz e toda a síntese das aventuras e possibilidades de desventuras, mas também seria para ele a princesa mais bela de todos os reinos.
Lhe restava saber se queria descobrir, lutar e se aventurar naquilo que ela era, ou se a vida de cavaleiro não lhe serviria.
***

Comentários

  1. Muito mais que isso, caberia ao cavaleiro perceber que havia muito mais que um corpo embaixo do lençol. Não era mais uma fantasia, a donzela das histórias prometida a um dotado conde, a bela princesa
    filha de um malfadado rei, ou ainda uma indefesa e ingênua criatura cujos conhecimentos se encerrariam nas muralhas do castelo. Mas sim uma sagaz e doce mulher que o espiava por entre o translúcido tecido e vislumbrava este que não mais era outro singelo cavaleiro munido de espada e com sua armadura. Seu coração era todo dela porque o que os
    uniam não era a distância entre dois mundos opostos entre um grande e uma pequena, mas a semelhante integridade de pensamentos e atitudes de ambas grandes almas.

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