"ela tem o rosto de ...

... nosssa senhora" - disse a velha enquanto me olhava docemente e mantinha a mao direita estendida, como se quisesse me tocar e nao ousasse. Nao despregou os olhos aquosos de velha nem quando minha avó fez pouco caso do comentario.
- 'quem é nossa senhora?' - perguntei, e ela me apontou uma imagem pintada em madeira, que eu percebi ja ter visto tambem em nossa casa.
A mulher parecia agora irritada, eu tinha feito uma pergunta ruim, mas nao tirei os olhos da pintura:
Ela tinha o coração em chamas, trespassado por uma espada. Com a mao direita bem aberta, lembro de tocar meu proprio peito e sentir meu coração bater, e o senti queimar. Voltei à conversa das senhoras, onde minha avó respondia rispida:
- "ela é um anjo, quatro anos apenas, todas as meninas nessa idade lembram maria, mesmo que assim nao fosse, ela nao precisava saber quem é."
- "nao le a biblia com a menina, Dona Juracy?" - a mulher parecia inconformada
Ela me estendeu a mao cor de cravo e canela, maos perfumadas de avó, e agarrou minha mão minuscula e branquissima.
- "vamos!" - ela disse me agitando - "é tarde tire os olhos dessa imagem, tenho mais o que fazer."
- "mas vó cia... ela tem o coração em chamas!"
- "o que tem isso?"
- "e dai que o meu tambem!"
Ela riu: "tu és um numero neguinha."