Sentamos morrendo de frio, no alto de um prédio bem no centro de Porto Alegre. puxei mais o casaco para a garganta enquanto resmungava que aquilo seria muito romântico se não estivesse assim, uns dez graus a sensação térmica ali àquela hora da madrugada.
"era pra ser romântico?" ele perguntou maldoso (mas seu tom era sempre esse, todo o tempo, a anos)
"isso é um problema seu, eu não tenho mais romances com ninguém, essa parte minha meio que morreu" - respondi apoiando o queixo no casaco tweed macio dele.
e dormi. Com todo aquele frio e altura, eu dormi.
Acho fantástico, simplesmente, por que desde muito tempo eu raciocino sobre isso, sobre a solução que o cérebro humano tem de fugir dos lugares e situações, pensando em outras mil coisas, ou dormindo...desligando... (e o meu, cá para nós, tem um potencial incrível para isso)
Ele me acordou rindo, achando graça da minha nova "parte morta".

Eu penso que eu estou bem. Penso que estou melhor do que antes.
A questão é: quem eu sou agora?
Sempre que mudamos algo, fechamos portas e abrimos outras, nós mudamos por inteiro...

Escrevo e reescrevo em mudar e lembro do Quintana "amar é mudar a alma da casa", que inverso eu fiz comigo, que já não amo, e mudo?

Comentários

  1. pq não deixa tudo aberto e poem pesinhos para não fechar as portas e janelas? deixa o vento correr livre... é bom.

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  2. Hoje eu estava na parada de ônibus, estava tudo muito úmido e gelado. Enquanto os automóveis passavam rápidos, me molhavam como se eu estivesse debaixo de chuva fina. Pensei que poderia estar em casa, tomando um chá quente quando fechei os olhos. Meus cílios grudados de gotículas de chuva me fizeram lembrar do que você havia escrito, e eu via as gotas muito pequenas desfocadas na minha visão e piscava os olhos para que elas se desfizessem na parte rosada e quente das minhas bochechas.

    Meu telefone tocou e era um número que eu conhecia muito vagamente. Meu ginecologista me ligou, houve uma alteração no meu preventivo. Meu citopatológico apontou possiveis lesões uterinas causadas por HPV. Vão me virar do lado do avesso semana que vem, enfiar coisas em mim, me pintar de iodo, banhar meu útero de tintas com nomes esquisitos.

    Comecei a rir, porque há algum tempo atrás minha mente inquieta diria "não existe prazer sem dor, não existe ação sem reação, o universo á mau e vingativo e você nunca vai saber onde errou".

    Mas hoje não faz diferença, nem vou me preocupar tanto. O google é meu melhor amigo e talvez eu consiga uma consulta grátis na wikipédia. Com alguma sorte ainda consigo o nome dos remédios. Talvez eu desligue, deixe meu cérebro hibernar, o tire disso, ou deixe meu nariz sangrar de novo até todos os pensamentos irem com ele.

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